Há quem ande com a Bíblia na mão e o rancor no coração. São pessoas que transformaram a cruz em espada, e o perdão em punição. Suas palavras não são de amor, mas de julgamento, como se Jesus fosse um juiz severo, pronto para condenar o próximo pelos pecados que eles mesmos não conseguem esconder. Vivem de um puritanismo frágil, como uma máscara que esconde suas próprias fraquezas, amarguras e frustrações.
Esquecem-se do que está escrito em Mateus 7:5: “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.” São almas que, ao invés de olhar para dentro e reconhecer suas falhas, preferem julgar o próximo, como se o erro do outro fosse um espelho onde evitam ver o próprio fracasso. Falam de um Deus que castiga, mas não do que acolhe. Pregam um Jesus punitivo, que não reconheceria o olhar misericordioso daquele que, na cruz, pediu perdão por seus algozes: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
Esses mal amados tentam, através da religião, justificar suas feridas. Mas ao invés de cura, encontram mais dor, pois o puritanismo que pregam não é o remédio, é o veneno que os consome. Escondem suas frustrações atrás de uma falsa santidade, julgando aqueles que ousam viver com a liberdade que eles não conhecem. Esquecem-se da advertência de Tiago 2:13: “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa sobre o juízo.”
A verdadeira fé não é um escudo para esconder o que há de errado dentro de nós, mas sim o espelho que nos mostra que somos todos imperfeitos e, ainda assim, dignos de amor. Deus não habita no julgamento, mas no perdão. Cristo não pregou a condenação, mas a redenção. Aos que andam amargos e feridos, só resta lembrar que o amor de Deus é leve, e que a vida em sua graça é muito mais sobre acolher o próximo do que sobre apontar seus erros.