A Essência das Coisas

Pode mudar o terno, ajeitar o cabelo, contratar stylist, passar perfume de grife. Pode treinar sorriso em frente ao espelho, repetir frases prontas com entonação ensaiada, postar vídeos com legendas sentimentais e fazer questão de mostrar que agora é outro — reformado, renascido, refeito.

Mas a essência… ah, a essência não mente.

Tem gente que acredita que a aparência é capaz de apagar o histórico. Que um banho de loja, um novo assessor e uma mudança de discurso bastam para convencer o mundo de que aquele que feriu agora é um pacificador. Que quem ignorou agora escuta. Que quem desdenhou agora acolhe.

Só que o povo sente. E sente de longe.

Sente quando o aperto de mão é encenado, quando o abraço é protocolar, quando o discurso é vazio e a presença é interesseira. Sente quando quem sorri hoje é o mesmo que desprezou ontem. Porque o povo tem memória afetiva — e dor não se apaga com filtro.

Tem coisa que nem a melhor agência de marketing dá conta. Porque não adianta vestir empatia, se ela nunca morou no peito. Não adianta falar de gente, se nunca se importou com elas. Não adianta repetir que se importa, quando o histórico é de descaso.

A nova embalagem pode até enganar alguns por um tempo. Mas a verdade, essa teimosa, escapa pelas entrelinhas. A máscara cai no segundo olhar. E aí, o verniz não segura.

No fim, quem é vazio de afeto transborda arrogância. Quem nunca olhou nos olhos não vai aprender agora. E quem só pensa em se manter no poder não vai aprender a pensar no outro da noite pro dia.

Pode pintar de nova era. Mas essência, meu caro, não se maquia.