Feridas das Ausências: marcas que os pais e mães deixam quando não ficam

Há feridas que não sangram. Não aparecem em exames. Não se curam com remédio. Mas ficam. Silenciosas, abertas, atravessando anos — às vezes, uma vida inteira. São as feridas das ausências.

E poucas ausências doem tanto quanto a de quem deveria ter sido porto seguro: pai ou mãe.

Não é sobre dinheiro. Não é sobre presentes caros, nem sobre aparições esporádicas em festas ou fotos de ocasião. É sobre a presença que não se comprime em um domingo por mês ou em uma ligação apressada. É sobre a escuta, o abraço, o conselho, o olhar que diz: “estou aqui”.

Quando um pai ou uma mãe não ficam, quando se ausentam do cotidiano, da formação, dos momentos que moldam a identidade de um filho, criam um espaço vazio difícil de preencher. E a criança cresce tentando entender se a culpa foi dela. Se não foi boa o bastante. Se não mereceu amor.

Pais e mães que somem, que se tornam personagens distantes ou fantasmas de si mesmos, talvez nem imaginem a marca que deixam. Para muitos filhos e filhas, a ausência parental gera insegurança, baixa autoestima, dificuldade de estabelecer vínculos afetivos, medo do abandono.

O tempo passa. A infância vira juventude. A juventude, vida adulta. Mas aquele vazio — às vezes escondido sob uma armadura de força — segue latejando. Nos relacionamentos, nas cobranças internas, nos silêncios difíceis de explicar.

Vivemos em tempos em que se fala cada vez mais de parentalidade consciente e afetiva. Mas ser pai ou mãe não se resume ao nome no registro. É se fazer presente. É estar na vida do filho como referência de cuidado, respeito, amor incondicional.

Ainda há muito o que avançar. Dados mostram milhões de crianças que crescem sem a convivência efetiva com um dos pais, e também casos em que mães se afastam ou tornam-se emocionalmente indisponíveis. Porque presença não é apenas física — é emocional, é vínculo.

Aos que ainda têm tempo — e todos têm, enquanto houver vida — fica o convite à reflexão. É possível refazer caminhos. Pedir perdão. Reconstruir pontes. Porque um abraço sincero, mesmo tardio, pode cicatrizar anos de ausência.

E para quem carrega as feridas dessas ausências, uma certeza: você não é responsável pela falta que não souberam preencher. Seu valor não depende de quem foi ou não capaz de amar você como merecia. As feridas existem, mas não definem quem você é ou pode ser.

Que saibamos falar mais sobre isso. Que possamos criar uma geração de pais e mães mais conscientes, mais presentes, mais humanos. Porque as ausências que um pai ou uma mãe deixam, a vida inteira tenta explicar.