O Brasil assistiu, estarrecido, à tragédia que tirou a vida da pequena Ana Beatriz, de apenas 15 dias, em Novo Lino, Alagoas. Uma história cruel, marcada por mentiras, comoção e, no fim, uma confissão brutal: a própria mãe asfixiou a bebê com um travesseiro. Mas, em meio ao horror do crime, outro espetáculo se formou — tão perverso quanto silencioso: o da frieza coletiva.
Enquanto a polícia investigava, enquanto a cidade chorava, milhares de pessoas transformavam a tragédia em conteúdo. Reels, stories, postagens indignadas, vídeos opinativos, comentários raivosos. Gente que nunca soube quem foi Ana Beatriz, mas que a usou como palco para ganhar curtidas, inflar engajamento ou alimentar uma raiva superficial.
A imprensa tem sua parcela de responsabilidade, claro. Mas hoje, cada celular com internet é também uma emissora. Cada pessoa com uma conta ativa nas redes sociais tem o poder — e o dever — de escolher entre o respeito e o espetáculo. E muita gente escolheu o pior lado: o da indignação performática, do sensacionalismo caseiro, da exposição sem limites.
A dor virou entretenimento. O luto virou enquete. A vida de uma criança virou combustível para mais um dia de likes.
Ana Beatriz não precisava disso. Ninguém precisa.
O que falta não é opinião. É empatia. É sensibilidade. É saber calar quando não se sabe consolar. É entender que nem toda tragédia é palco. Que nem todo caso precisa de sua análise, seu julgamento, sua versão.
Num mundo em que todo mundo grita para ser visto, está cada vez mais raro quem se recolhe por respeito. E isso, talvez, seja o maior sintoma do nosso adoecimento coletivo.
Que a memória de Ana Beatriz não seja lembrada apenas pelo crime, mas como um espelho do que nos tornamos — e do quanto ainda precisamos aprender sobre humanidade.